quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Book- João Cabral de Melo Neto


'E neste rio indigente, 
sangue-lama que circula
entre cimento  esclerose
com sua mancha quase nula

e na gente que se estagna
nas mucosas deste rio, 
morrendo de apodrecer
vidas inteiras a fio,
podeis aprender que o homem
é sempre a melhor medida.
Mais: que a medida do homem
não é a morte mas a vida. '

( Paisagem com figuras - 1954-1955 - João Cabral de Melo Neto )

' No mentido alicerce de
morta civilização
a luta que sempre ocorre
não é tema de canção.

É uma luta contra o deserto,
luta em que sangue não corre,
em que o vencedor não mata
mas aos vencidos absorve.

É uma luta contra a terra
e sua boca sem saliva,
seus intestinos de pedra,
sua vocação da caliça,

que se dá de dia em dia,
que se dá de homem a homem, 
que se dá de seca em seca,
que se dá de morte em morte.'

( Paisagem com figuras - 1954-1955 - João Cabral de Melo Neto )

Morte e vida severina  - ( Um breve resumo )

         Conta a história de um retirante de nome Severino, que a muito tempo está partindo para o litoral com o objetivo de fugir da seca, fome e morte.  Severino acreditava que a vida na Capital era mais "mansa" menos severina, porém chegando lá ele se depara com o oposto, a morte e o desespero cercam o lugar.
         Primeiro ele se depara com homens carregando um defunto, que foi assassinado, pois tinha que expandir suas terras, porque não eram produtíveis. Depois o retirante pega carona em uma "carreata" onde mais uma vez é sobre defunto. Porém ele decide ir atrás de emprego, indo até uma mulher que se encontra debruçada em uma janela, então descobre que tudo o que sabe fazer não serve pra nada, a única coisa que lucraria, seria trabalhar em torno da morte (coveiro, médico, rezadeira.). Então severino continua sua viagem, acreditando que a Capital, não seria muito boa quanto parece, tudo era diferente e mais triste. Então já no Recife, desiludido, chega seu José, mestre de carpina. Desesperançado Severino revela à seu José que pretende se suicidar, se jogar no rio e morrer em algo "macio e líquido" (suspeitei isso desde a parte em que ele perguntou a profundidade do rio SHAUHSA). Seu José tenta convencer que ainda vale a pena lutar... Mas Severino não vê diferença e pergunta: "Que diferença faria se em vez de continuar tomasse melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida?", nesse exato momento entra uma mulher (onde eles estavam) e diz que o filho de seu José "saltou para dentro da vida", nasceu um lindo menino. Então chegam vários conhecidos trazendo presentes, e duas ciganas que estavam ali, revelam o futuro do menino dizendo que, quando pequeno aprendera a viver como os bichos, porém quando crescer vai trabalhar em uma fábrica e poderá viver melhor.
          Severino assiste o momento, e vem até ele seu José e diz que não sabe responder sua pergunta, porém este nascimento poderia ser uma resposta: a vida tem mais é que ser vivida.

° Ultima parte do livro° - resposta de seu José:

"- Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fábrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

 (Morte e vida severina - João Cabral de Melo Neto, Editora: Ponto de leitura)



   

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